ATA DA QÜINQUAGÉSIMA NONA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 16-11-2000.

 

 


Aos dezesseis dias do mês de novembro do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e trinta e sete minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Senhor Hugo Ramirez, nos termos do Projeto de Resolução nº 056/00 (Processo nº 2241/00), de autoria do Vereador Cyro Martini. Compuseram a MESA: o Vereador Paulo Brum, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; a Senhora Maria Antonina Silveira, representante da Secretaria Municipal da Cultura; o Senhor José Francelino de Araújo, Presidente do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul; a Senhora Betty Borges Fortes, representante da Academia Rio-Grandense de Letras; a Senhora Gisele Bueno Pinto, Presidenta da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul; o Senhor Sérgio de Laforet Padilha, Vice-Presidente da Estância da Poesia Crioula; a Senhora Santa Ineze da Rocha, Presidenta do Instituto Cultural Português; a Senhora Sílvia Benedeti, representante do Grêmio Literário Castro Alves; a Sr.ª Alzira Dornelles Bán; a Tenente Cláudia Vinadé, representante do Diretor do Departamento de Ensino da Brigada Militar; o Senhor Hugo Ramirez, Homenageado; o Vereador Cyro Martini, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Cyro Martini, em nome das Bancadas do PT, PTB, PDT, PSDB, PMDB, PSB, PFL e PPS, historiou a trajetória literária do Senhor Hugo Ramirez, relatando a competência sempre demonstrada por Sua Senhoria no desempenho desse ofício, além de múltiplas atividades exercidas na área do Direito, Jornalismo e Magistério. Também, salientou a afinidade com a poesia de Castro Alves e a temática gauchesca presentes na obra do Homenageado e leu poema de autoria de Sua Excelência, dedicado ao Senhor Hugo Ramirez. Na oportunidade, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças das Senhoras Maira Hervé Ramirez e Mirta Hervé Ramirez Magnan, filhas do Homenageado; Maria Dornelles da Costa, esposa do Homenageado; dos Senhores Bilac Leiria, Representante do Grande Oriente Sul-Brasileiro - GOESUL; Serafin de Lima, Presidente da Sociedade Partenon Literário; de amigos, convidados e familiares do Homenageado. A seguir, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, afirmou ser o Senhor Hugo Ramirez uma das mais lúcidas e produtivas mentes das Letras do Rio Grande do Sul, destacando a bagagem intelectual e a dedicação do Homenageado em prol do engrandecimento do regionalismo gaúcho e lembrando, particularmente, a participação de Sua Senhoria na implantação de festivais de música nativista e a inclusão de Centros de Tradições Gaúchas em escolas do Estado. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Senhora Ruth Telles, que declamou dois poemas de autoria do Senhor Hugo Ramirez, intitulados “O Ar” e “Pomba”. Após, o Senhor Presidente convidou o Vereador Cyro Martini a proceder à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Senhor Hugo Ramirez e, em prosseguimento, concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Prêmio recebido. Na oportunidade, o Vereador Cyro Martini, assumindo a presidência dos trabalhos, registrou o recebimento de correspondências alusivas à presente solenidade, enviadas pelos Senhores Luiz Felipe Vasques de Magalhães, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; Edvaldo Machado Boaventura; Ivanize Mantovane; Maria Salete da Cunha; Alexandre Menezes; João Justiniano da Fonseca; Conceição Q. J.; Irmão Élvio Clemente; Charles Kiefer, Secretário Municipal da Cultura; pelo Banco Fiat, assinada por colegas da Senhora Maira Hervé Ramirez. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e quatro minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Paulo Brum e Cyro Martini e secretariados pelo Vereador Cyro Martini, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Cyro Martini, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a entregar o Prêmio Literário Érico Veríssimo ao escritor Hugo Ramirez.

Convidamos para compor a Mesa o escritor Hugo Ramirez, homenageado; a Il.ma Sr.ª Maria Antonina Silveira, representante da Secretaria Municipal da Cultura; o Il.mo Dr. José Francelino de Araújo, Presidente do Instituto dos Advogados do RS; a Il.ma Dr.ª Betty Borges Fortes, representante da Academia Rio-Grandense de Letras; a Il.ma Dr.ª Gisele Bueno Pinto, Presidente da Academia Literária Feminina do RS; o Il.mo Sr. Sérgio de Laforet Padilha, Vice-Presidente da Estância da Poesia Crioula; a Il.ma Prof.ª Santa Ineze da Rocha, Presidente do Instituto Cultural Português; Sr.ª Sílvia Benedeti, representante do Grêmio Literário Castro Alves; Sr.ª Alzira Dornelles Bán, Presidenta da Academia Literária Castro Alves; Tenente Cláudia Vinadé, Representante do Diretor do Departamento de Ensino da Brigada Militar.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O Ver. Cyro Martini, proponente desta homenagem, está com a palavra e falará em nome das Bancadas do PT, PDT, PTB, PSDB, PMDB, PSB, PFL e PPS.

 

O SR. CYRO MARTINI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Representantes de associações e entidades que, hoje, proporcionam a esta Casa engalanar-se, empolgar-se por receber, neste Plenário, através do qual o povo porto-alegrense política e administrativamente se manifesta, senhores, senhoras, pessoas tão ilustres da cultura e da literatura. Mas ela tem honra maior, hoje, ao proporcionar esta homenagem a uma figura das letras sul-rio-grandenses, da poesia, da prosa. Sessenta anos construindo prosa e poesia, é uma vida! Isso significa um atestado singular de capacidade para esta obra de arte dentro do campo literário. Afora esses aspectos, o Dr. Hugo Ramirez merece também nossa atenção, nesta oportunidade deste Prêmio Érico Veríssimo, deste Título Érico Veríssimo, citando que, afora o seu esforço literário, ainda merece também ser enaltecido pelo seu trabalho no magistério, no jornalismo, na advocacia. São anos e anos de dedicação e que mostram ter ele realmente plenas condições para esses exercícios.

Dentro da poesia, na qual iniciou-se cedo, jovem, em 1940, com o soneto Adolescência, mostraram que cedo o seu pendor artístico se manifestava; a prosa, em seguida também contou com a sua pena em 1941. Jovem, ginasiano na sua terra natal, lá na fronteira, Uruguaiana, e quantos mais. O seu pendor, a sua vocação para o magistério cedo manifestou-se e naquele conceito tradicional, de sacerdócio, do ensino, da instrução. No ginásio em Uruguaiana ele já participava de movimentos para alfabetizar pessoas simples do povo que não dispunham de oportunidade nesse sentido, e ele foi lá alfabetizá-las, dezenas receberam instrução e enxergaram as letras através da docência juvenil, se não infanto-juvenil, do Dr. Hugo Ramires. Trinta e cinco, trinta e seis, trinta e sete, lá se vão na esteira do tempo para trás esses anos.

Castro Alves já o é na literatura e na poesia desde trinta e seis; cedo já demonstrou o seu apreço e o seu carinho pela poesia baiana de Castro Alves.

Outro dado importante da sua vasta e rica biografia e do reconhecimento, que também já não é tão singular, porque já vem se manifestado, também, há bom tempo e sobremodo nesses outros anos, foi patrono recentemente da Feira do Livro de Uruguaiana, o primeiro patrono da Feira MERCOSUL, se a memória não nos trai; são dados que mostram que se nós fôssemos enumerar o que fez na poesia, o que fez na prosa, o que contribuiu no Direito, o que contribuiu na História, o que contribuiu na docência, o que contribuiu nos vários campos, com o seu carinho e o seu empenho, nós ficaríamos aqui muito mais do que um dia. São anos de bom e profícuo trabalho! Não há de ser em alguns minutos que nós vamos ter tamanha capacidade para resumir isso em poucas palavras. Por isso, fica o nosso registro nesse sentido. Julgamos de importância capital.

Quando nós reunimos figuras ilustres, aqui na Mesa, no Plenário, vemos da importância que tem esta Casa para promover a cultura. Nós sabemos que ela não dispõe do respaldo que merece para poder oportunizar desde a cultura mais simples, lá num canto de bairro, onde podemos levar a poesia, o soneto, o poema, até os castelos mais refinados, onde se reúne a elite, talvez não cultural, mas, sim, econômica. Nós teríamos de proporcionar isso. Teríamos, mas não há condições plenas, porque o Poder Público ainda não acordou nesse sentido. Com esta homenagem, queremos deixar registrado que esta Casa, que representa os munícipes porto-alegrenses, sente-se deveras orgulhosa de poder dizer que o Título, que tem por patrono Érico Veríssimo, vai ser conduzido doravante por boas e valiosas mãos, mãos calejadas pela caneta, trabalhando pelas letras e pelos versos, vai ser bem levado e ostentado até onde está Érico Veríssimo, e ele dirá: “Foi um prêmio justo. Sinto-me contemplado e engrandecido por ver que o meu nome está lá no gabinete de trabalho do Dr. Hugo Ramirez.”

Eu não sou poeta, longe de mim querer ter tamanha ousadia, pois, para mim, das coisas difíceis que há, e há muitas, uma delas é a poesia. Ser poeta é escrever um poema, um soneto, uma quadrinha, mas é difícil, é muito difícil, por isso nós temos de ter uma admiração profunda por quem tem capacidade de sentir. Mas há os atrevidos, aqueles que se metem, como diriam na fronteira, cujo temas foram sobremodo destacados na poesia e na prosa de Hugo Ramirez, toda a temática sul-riograndense, os costumes, os hábitos, os pormenores da vida do campo, os pássaros, os homens, os peões, as senhoras. Diríamos, então, que Hugo Ramirez é uma pessoa que se dedica à cultura nativista, ao regionalismo, ao gauchismo. Não, isso é um detalhe da sua vida, não é apenas por isso, tanto é que a admiração e o apreço dele é por um nordestino, Castro Alves, figura singular, que trazia, na sua pena, uma contradição que não entrava em choque consigo mesmo, mas que, no atropelo das letras, ia construindo bela poesia e bela prosa. Ele não escreve só em português - isso é importante -, espanhol também recebeu a sua atenção.

Então, pelos poetas que o encantaram, de língua espanhola, especialmente da América, e pelo domínio que ele tem da língua, pois sabe expressar o sentimento, tanto na língua espanhola quanto na língua portuguesa - e isso é extraordinário -, é um outro dado, uma qualificação que singulariza ainda mais a figura do Dr. Hugo Ramirez.

Mas, como eu disse, poesia é algo difícil, não só para escrevê-la, pior ainda é para dizê-la. Escrever é difícil. Esses versos que se vêem por aí não são poesia, mas um amontoado de palavras. Não é que a poesia tenha de ter rima - não, não precisa ter rima! -, mas tem de ser poesia. E isso que anda por aí nos ônibus, hoje, com todo o respeito, eu tenho dificuldade de entender como poesia. E quanto a dizê-la, eu tenho, diante de mim, alguém que o faz bem, mas é difícil. Escrevê-la é difícil, dizê-la, talvez pior ainda.

Mas como às vezes somos atrevidos, escrevemos alguma. Fica mais, como diria o nosso companheiro aquele, lá do bairro, conversando ali na esquina, com o perdão do atrevimento: “Deixa eu me meter também nesta aí.” Falta-me o linguajar gauchesco, que seria o mais adequado, para dizer: “Com a licença do dono da casa, eu também vou dizer a minha poesia.” Já que é atrevimento, então posso chamá-la de poesia, poema, a que dei o título: Dr. Hugo Ramirez. Como eu tinha dificuldade de rima em relação ao título Érico Veríssimo, acabei colocando um título, com o auxílio do nosso querido Presidente do Partenon Serafin Lima, de Cidadão Benemérito. Dr. Hugo Ramirez, eu vou lê-la, não vou declamá-la, pois, nesse caso, eu teria de entregar o microfone.

“Essa figura gigante, / No corpo e na alma, / Na inquietude da pena / procura pela calma. / Construiu e constrói / uma literatura social, / preocupada com o irmão / sob a luz do Direito e da Moral.

Já na sua juventude / construíra o seu ideal, / Alfabetizando povo simples, / Doando-lhe do veio cultural / gotas preciosas das letras, / Para abrir a inteligência / Pelos caminhos do saber, / Rompendo-lhe a consciência.

Dar das luzes das letras, / Em simples alfabetização, / Doou de si para o operário, / Concretizando seu amor cristão / Não pondo só na palavra / Sua ansiedade socialista/ Conformou-a em ação / Pelo caminho concretista.

Sua palavra sonora, / O vigor expressivo da voz / Buscou nas plagas nordestinas, / Oferecendo-as para nós. / Dos versos de Castro Alves, / Nas asas do condor / A sua pena poética / Se mostra com todo o ardor.

Condoreiro desde jovem, / No seu berço da fronteira, / Tomou o barco poético / Erguendo a sua bandeira. / Bandeira de Castro Alves / De brasileiro nordestino / Içando-a nos mares do campo,/ Marcando prá sempre seu destino.

Sua vida seguiu em frente, / No rumo de porvir fulgurante, / No qual a poesia e a prosa / Apontam sua pena gigante, / Que escreve em duas línguas: em espanhol e em português, / Marcam-nas sobremaneira seu estilo vigoroso e cortês.

Sua temática variada / Cavalga solta pela campanha, / Ora cantando algum amor, / Ora relatando uma façanha. / Falquejou a lança da guerra com telúrico nativismo, / Para bradar pela brasilidade / Contra qualquer imperialismo.

 Hoje seu nome se expande, / Pelo campo, sob céu azul, / Pela cidade daqui e de fora, / Tornando-a no Mercosul / Patrono da Feira do Livro, / No seu berço Uruguaiana, / Na fronteira, lá onde o Brasil / Com a América se irmana.

Hoje nesta Câmara Municipal, / Porto Alegre manifesta / O seu orgulho e o seu carinho, / Por esta homenagem que presta, / A um querido filho de criação, / O qual por seu valor e mérito / Fez, faz e fará pleno jus / Ao título de Cidadão Benemérito.”

Esta é uma singela homenagem que prestamos ao Dr. Hugo Ramirez. Como eu disse, é um atrevimento, mas, como diz um companheiro: “Vale mais pela intenção do que pela qualidade dos versos, da rima e da poesia.”

A Câmara Municipal sente-se orgulhosa por esta homenagem. Nós iremos registrar nos Anais da Casa que hoje aqui se fez justiça a um grande nome da literatura, da poesia e da prosa gauchesca, mas cujos limites não se adstringem ao Rio Grande e vão mais longe. Meus parabéns pelo Prêmio Érico Veríssimo, que é justíssimo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Registramos, como extensão da Mesa, a presença das filhas do homenageado Maira Hervé Ramirez e Mirta Hervé Ramirez Magnan; da esposa Sr.ª Maria Dornelles da Costa; do Sr. Bilac Leiria, representante do Grande Oriente Sul (GOESUL); do Sr. Serafin de Lima, Presidente da Sociedade Partenon Literário.

O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra pelo PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Poeta e amigo José Carlos Ribeiro Hudson; meu sempre líder Dr. Justino Vasconcelos; Sr. Serafim de Lima Filho, Presidente da Sociedade Partenon Literário; Sr.ª Alzira Dornelles Bán, Presidente da Associação dos Moradores do Bairro Menino Deus; Senhores Poetas, Escritores, Professores, Folcloristas, Senhoras e Senhores.

Esta Sessão Solene de entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Professor, Poeta, Advogado e Historiador Hugo Ramirez ocorre muito oportunamente para homenagear uma das mais lúcidas e produtivas mentes da Literatura rio-grandense.

Hugo Ramirez nasceu em Uruguaiana, em 12 de abril de 1926; em 1938 estreava no jornalismo da sua terra; em 1940 editava o seu primeiro livro de sonetos Adolescência. Era o começo de uma longa e profícua carreira literária, com mais de setenta títulos editados, entre poesia, conto, história, pedagogia, sociologia, direito, tradição gaúcha e folclore. Licenciado em Geografia e História, em Ciências Jurídicas e Sociais, em Direito Público, pós-graduado em História e Sociologia. Apesar de sua eclética bagagem intelectual, Ramirez sempre dispensou especial atenção ao regionalismo gaúcho, do qual é um dos seus maiores expoentes. Preconizou a inclusão do cetegeísmo nas escolas, e foi o vice-presidente do primeiro congresso tradicionalista realizado em Santa Maria. Promoveu o primeiro congresso de poetas gauchescos do Rio Grande do Sul em 29 de junho de 1957, quando foi fundada a Estância da Poesia Crioula, da qual, por mais de uma gestão foi seu presidente. Hugo Ramirez tem a seu crédito ainda a instituição dos festivais de música nativa do Rio Grande do Sul, fazendo parte da comissão organizadora da Primeira Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, realizada em 1971. A alma telúrica do nosso homenageado fica expressa e se derrama, quando saboreamos seus versos de cunho gauchesco, como aqueles encontrados em Mundo a Parte do seu livro Disparo de Tropa: "O Rio Grande é um mundo a parte para quem nele viu a luz, /Pago que o queria seduz até à invernada da arte, / Berço do guasca torena de pé firmado no estribo, / É um oratório afetivo onde se ajoelha a ventena. / Rincão de viola e cordeona. Do fandango e da vaneira, / De esquila, doma e carreira e de china querendona, / De churrasco e chimarrão, de peleias e adagas, / Ponteando eras passadas nos moerões da tradição. / Torrão dos meus ancestrais, de história brava e recente, / Até nisso é diferente o meu pago dos demais. / Que constitui o luxo da rio-grandense beleza, / Muito mais que a natureza, é o próprio tipo gaúcho!”

Por isso, em nome do Partido Progressista Brasileiro, em meu nome pessoal e dos Vereadores Pedro Américo Leal e João Antônio Dib, agradeço ao Ver. Cyro Martini pela oportunidade de agraciar tão importante personalidade.

Ao Hugo Ramirez as nossas homenagens e a certeza de que o Prêmio Literário Érico Veríssimo está em ótimas mãos e que Érico Veríssimo, lá na eternidade, está aplaudindo a presente outorga.

Parabéns Hugo Ramirez, que Deus nosso Senhor te dê vida longa, com saúde e que possa continuar enviando os dons do Espírito Santo para que permaneças sempre com essa inteligência privilegiada. Os nossos cumprimentos. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): A Sr.ª Ruth Telles está com a palavra para declamar dois poemas de autoria do escritor Hugo Ramirez.

 

A SRA. RUTH TELLES: É com alegria e emoção que deixo com os senhores, nesta tarde de justas homenagens ao poeta, os seus versos.

Ar.

Não o ar das salas de espetáculo, o ar condicionado. / Não o ar dos ventiladores elétricos / - o ar domado. / Não o ar comprimido / dos tubos de oxigênio, / respiração mumificada em sarcófagos de aço.

Não o ar letal / dos caixões de embalsamamento / com que se retêm num desperdício / os despojos / dos defuntos ilustres ou acidentados.

Não o ar que se suicida / ao se intrometer / em garrafas abertas / sub-repticiamente / para um gole especial.

Não o ar das prisões. / Não o dos porões. / Não o dos conventos, dessorado ar sem ar. / Não o dos gabinetes palacianos, / pura baba. / Nem o dos laboratórios, / sorvido aos fragmentos / nas agonias da pesquisa.

Mas o ar sem grilhetas nem molduras, / o ar dos campos largos, / o ar dos oceanos agitados, / o ar das serranias / puro e frio como uma navalha, / o ar gélido das densas matarias.

Sim, o ar dos ocasos e das madrugadas / quando o hálito de Deus / sopra poesia nas coisas, / aquele mesmo hálito sagrado / - o pneuma! / com que a argila se fez carne / na Ásia e no Mediterrâneo / e povoou a terra / com suas angústias e sua ternura.

Sim o ar da Grécia / que vivia / lutava / matava / morria e amava / sorrindo, jovial, / - o zéfiro.

Sim o ar vendaval do Saara, / limpador de despojos, / civilizações e perfídias, / sempre a conferir / rutilâncias e curtimento, / - o simum.

O ar das correntes marítimas / que tira de um continente / e leva para outros lugares / a terra, as plantas, os peixes, as gentes, / aquele ar incomensurável / que apanhado na superfície do solo / e absorvido por algum funil subterrâneo / gera vômitos de fogo das lavas / e os abalos cardíacos dos terremotos, / fugindo novamente / livre / e senhor do seu destino / para o espaço sem peias.

Esse ar original, / gerador dos deuses e da vida, / esse ar incontaminado / que atravessa as galáxias / e se banha / cantando / nas mil constelações do azul, / tempo... / esse, precisamente esse, / o ar cósmico, / busco-o / quero-o / canto-o / na sua música das esferas inatingíveis, / míssil relâmpago do Sonho / em que viajamos / do sem-princípio para o sem-fim, / abancados / no assento basculante e ejetor / de um amor desmedido.

Esse ar. / Esse sonho. / Esse amor.” (Palmas.)

 

“Pomba

A branca pomba da paz / de verde ramo na boca / por ares de sangue e pólvora, / vogava, tonta.

Da Alemanha das valquírias / de lança-chamas na mão / à Áustria, à Tchecoslováquia, / à Itália, toda a amplidão / se envenenara de obuses / e combustão.

Nisto, a lembrança lhe veio/ da asiática inundação/ e voou procurando a arca / até o Japão. / Já mais perdiz do que pomba, / de Hiroshima a Nagasaki / rasteiramente no chão / fatigada voava, cômica, / quando a colheu a explosão / da bomba atômica.

Ninguém vira a branca pomba / de verde ramo na boca / ser deslocada também / com casas e carnes rotas / que a oferenda de Caim / ejetou para a amplidão. / Nem a pomba se deu conta / da sua transformação.

Do tenro e níveo cetim / irrompeu um avejão / grande como os cogumelos / caídos sobre o Japão.

Agora, cruzando os céus / - gralha azul da era cósmica - / com asas de rublodollars / plantas espinhentas bolotas / sobre o mar e sobre o chão / dos quatro pontos cardeais.

Com bombas de aço na boca / voam alvejando sobre a terra na geografia do vôo / cortando as Pátrias ao meio / cortando os homens inteiros em duas metades.

Fez duas pátrias da China / da Coréia e da Alemanha / duas Índias e dois Congos / dois Chipres / dois Vietnan / povoados por heterântropos / monstro / filho de outro monstro / baba de aço do avejão. / De baioneta na mão / tentando uma reunião das duas partes do homem / das duas porções da Pátria.

Os homens chamam a pomba / tendo em resposta outra ave / que em vez de arrulho traz bomba e é feroz / em vez de suave.

Só os pintores e os poetas criam pombas que são pombas / fiéis à pomba abstrata / sem ver os obuses do aço da ex-pomba quando ribombam e os homens que a pomba mata.” (Palmas.) Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Convido o Ver. Cyro Martini a proceder à entrega do Diploma, Prêmio Literário Érico Veríssimo, ao nosso querido, escritor-poeta, Hugo Ramirez.

 

(Procede-se à entrega do Prêmio.) (Palmas.)

 

O Sr. Hugo Ramirez está com a palavra.

 

O SR. HUGO RAMIREZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, queridos amigos, Presidentes das entidades culturais que honram esta homenagem e, de modo especial, a minha modesta pessoa, que estão posicionados na Mesa Diretora dos trabalhos, cujos nomes deixo de pronunciar propositadamente, porque, na verdade, na minha sinceridade e na minha gratidão, deveria proferir o nome de todos quantos estão a me honrar, de modo muito especial e inesquecível, para mim e para minha família, neste instante. Companheiros que representam não apenas uma amizade de anos, mas figuras solares da vida pública no Rio Grande do Sul. Sinto-me forçado a ressaltar nomes e peço a essas queridas pessoas que me perdoem se não o faço para não cometer uma injustiça imperdoável, que seria deixar de nomear todos esses homens e mulheres que me estão hoje a me deixar, no dia mais feliz da minha vida, justamente privilegiado. Mas há aqui figuras solares da vida jurídica como da vida literária, Professores de faculdade, onde lecionam os aspectos mais ricos e notáveis do Direito, figuras esplêndidas como criaturas humanas e poetas; há prosadores, pesquisadores conterrâneos de grande brilho e com acentuado patrimônio de serviços prestados ao Rio Grande e ao Brasil, todos esses entes queridos, minhas queridas filhas, e, de modo especial, esta extraordinária artista, oralizadora da palavra, que transforma em instrumento de arte excepcional, os meus agradecimentos e também a dívida de gratidão pelo emocionalismo que conferiu a esta solenidade. Com a devida licença, eu direi através do protocolo, no trabalho lido que escrevi esta manhã. (Lê.): “Ao participar desta cerimônia, no Plenário da Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre, abro meu coração para externar ao edil Cyro Martini e a todos os seus generosos colegas, o meu melhor agradecimento. Misto de pesquisador e poeta , autor de um livro de resgate do bairro onde ambos vivemos, o Partenon, ante-sala de Viamão, burgo do povoamento e da colonização do interior do Rio Grande do Sul, o seu gesto sela, em definitivo, meus vínculos sentimentais com esta Casa do Povo porto-alegrense.

A decisão do Plenário, por unanimidade, coincide com um aniversário que me é muito caro, o do sexagésimo aniversário de estréia em livro, com a publicação de um conjunto de sonetos octossilábicos “Adolescência”, marco inicial da minha modesta carreira de escritor.

Volto no tempo para a minha Uruguaiana de 1940, quando, ao calor de meus 16 anos incompletos, afoitamente atirei minha luva ao destino. Este retorno emotivo me induz a folhear, enternecidamente, os singelos versos de então, no intuito de compreender as energias anímicas que me impeliam ao futuro e ao desconhecido, como a celebrar a teurgia de um advento, tendo, aos meus pés, o chão verde dos meus pagos e, diante dos meus olhos ávidos , a inexorável correnteza do rio dos pássaros pintados, a avançar para o Prata e para o mundo.

Um poema desse livro, “Andorinha” espelha a emoção do adolescente que eu era: “Que estimulo nos dão ao voar, no inverno, em busca do verão, além da serra, além do mar, estas aves de arribação! Sinto, também, no coração, dever, agora, me afastar... Chegou ao fim minha estação. Outra, melhor, me chama do ar. Eu titubeio, tolamente, em me lançar para o porvir. E indago, preso no presente: ‘Por que em tal clima hostil te aninhas em vez de voar, e de partir pelo amplo céu, com as andorinhas?...’” Para os moços sem recursos do interior, justamente desejosos de construir seu lugar ao sol, o exílio voluntário do torrão onde nasceram e se criaram é uma opção inafastável. Em toda mente adolescente, nesses instantes, as dúvidas e os temores do desconhecido atuam com o rigor de aguilhadas nas entranhas. Minha mãe, meus amigos, a doçura enfeitiçada da paisagem local, tudo me prendia. Mas algo forte me impelia, como anotei nos versos do soneto “Bússola”, do mesmo livro: “Côncava a noite, mão aberta com luva azul, oferta os astros a todo artista de alma alerta, nau de ilusões e altivos mastros. Também sou nau. Também navego, recém- saído do estaleiro, rumo de um horizonte cego, na asa do vento marinheiro, Singro o destino, que me esconde os portulanos deste mar, a  velejar, não sei para onde... Que importa o porto aonde atracar, se há sempre estrelas a que sonde, na mão da noite aberta no ar?!”

Talvez porque nascido numa nesga de pampa, nunca me atrevi a bancar Castro Alves, quando, também adolescente, respondia para os colegas de aula que riam de seus sonhos: “Eu sou pequeno, mas só fito os Andes”, embora, na verdade, em derredor, o que o poeta via eram as colinas de Aporá, modestas elevações de abaceiras. Contudo, algumas coisa ao longe me acenava. E eu tinha de partir, como o fiz, para a Capital do meu Estado, da qual sai um dia, levado para o Rio de Janeiro, onde trabalhei no Ministério da Educação, rodeado de vultos da grandeza de um José Lins do Rego e do meu companheiro de almoço nos corredores do edifício, o poeta J. G. de Araújo Jorge, e do qual a mesma Mão Misteriosa que governa os nossos passos, me afastou, precisamente quando eu via abrirem-se para mim as portas da imprensa e das editoras de primeira grandeza.

Entretanto, eu me movia, alguma coisa me impelia para o ritornelo das vidas comuns, como sempre foi a minha, homem de poucas ambições e fácil de contentar. Assim me fixei em Porto Alegre, de onde pouco tenho saído, seja para trabalhar, seja para conhecer melhor o meu País e a América do Sul, ou até para visitar a Europa dos meus ancestrais e ir até as ilhas açorianas, altares da nossa ternura.

Esta Casa do Povo tem sido meu aconchego e até uma nobre tribuna.

Lembro que, em 1982, quando de retorno de Muritiba, onde fora com a primeira Caravana Castroalveana da Brasilidade, fui convidado a falar dessa iniciativa e, conseqüentemente, do grande poeta da abolição. Em 1983, novamente aqui compareci, para exaltar o vate de “Os Escravos”. Ao ensejo do sesquicentenário da década heróica, em 1985, voltei para com vocês relembrar e que foi aquela epopéia, precursora da Federação e da República do Brasil. Aqui estive ainda, há menos de um ano, para partilhar da evocação da grandeza do pajador Jayme Caetano Braun. Por isso, talvez, sua generosidade, supervalorizando os meu quarenta anos de moradia nesta Capital e o meu modesto, mas devotado, trabalho de jornalista, educador, escritor, tradicionalista e produtor cultural outorgou-me o título de Cidadão Emérito em 1985. Num relâmpago reminiscente, direi que na imprensa sentei praça em janeiro de 1938, numa série de crônicas para A Nação da minha terra, estimulado pelas idéias do filósofo José Ingenieros, com relação aos deveres e compromissos da juventude. Depois, me profissionalizei em A Fronteira, O Jornal, A Nação, o Brasil, em Uruguaiana. E, nesta Capital, na Tribuna Gaúcha e Correio do Povo. Somo, desta forma, mais de meio século de filiação à Associação Rio-Grandense de Imprensa.

Educador, comecei aos 13 anos, apoiando uma campanha uruguaianense de instrução de rapazes e adultos analfabetos ou de escassos conhecimentos, improvisando-me, por necessidade, em alfabetizador. Depois, ensinei, durante 10 anos na Guarnição Federal de Uruguaiana, no 8º RCI, Regimento Conde de Porto Alegre, que, no dia 25 de fevereiro deste ano, me honrou com um gesto e um diploma de apreço. Ensinei na então Escola Normal José Bonifácio, no Colégio Estadual Professor Mantovani, que organizei e do qual fui o primeiro diretor, no Ginásio Marista e na Escola Rio Branco, mantida pela Igreja Episcopal, todos de Erechim. Em Porto Alegre, lecionei no Colégio Estadual Cândido José de Godoy e Júlio de Castilhos, nos quais fui Presidente do Grêmio de Professores. No Cândido José de Godoy instituí a Semana de Culto a Ramiro Fortes de Barcelos. Ensinei também na Faculdade dos Meios de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica. No Rio de Janeiro, trabalhei um ano e meio na Campanha Nacional de Educação Rural, vale dizer, de educação de base.

Tradicionalista, comecei me ajustando de peão no 35-CTG, pelas mãos do grande poeta Glaucus Saraiva, em 1948, e logo fui eleito Sota-Capataz dessa entidade, isto é, Secretário-Geral da 1ª Diretoria Oficial, comandada pelo patrão Antônio Cândido da Silva Neto e o capataz Luiz Carlos Barbosa Lessa. Fundei, em Erexim, a partir de 1952, os quatro primeiros cetegês estudantis do Estado e o Galpão Campeiro, até hoje em brilhante atividade. Fui um dos Vice-Presidentes do 1º Congresso Tradicionalista Gaúcho, de 02 a 04 de julho do frio inverno de 1954, em Santa Maria, ocasião em que apresentei duas teses pioneiras: uma propondo e programando a inclusão do tradicionalíssimo gaúcho nas escolas públicas, e, a outra, a aplicação da nossa experiência em área nacional, ambas fazendo parte do livro editado por Simeão Coelho Leal, do Ministério da Educação e Cultura, em suas coleções, em 1959. Por duas gestões, de 1969 a 1971, presidi o Movimento Tradicionalista Gaúcho, do qual sou, hoje, por isso mesmo, Conselheiro Vaqueano.

Escritor, editei poesia universalista em português e em espanhol, e regionalista, esta desde 1945, com “Lagoa da Música”, estando, pois, com vinte livros publicados nessa área. Publiquei três obras de ficção, entre as quais o romance “Rio dos Pássaros”, nesse abordando o conflito entre gente da campanha e seus filhos envolvidos no trabalho urbano. E mais algumas dezenas de ensaios sobre pedagogia, sociologia, história e crítica literária.

Na minha condição humana, sempre fui muito ditoso com as mulheres da minha vida. Construí, enfrentando adversidades comuns a todos os pais, uma família com nove filhos, a quem quero muito bem e aos quais nem sempre as circunstâncias me permitiram dar tudo quanto merecem.

Sou eminentemente um ser gregário. Criei-me entre parentes e amigos, a quem quero muito bem e, entre os quais, aprendi e aprendo a viver e a ser sempre um pouquinho melhor do que já fui e sou.

Quero dizer, nesta universidade de políticos, que não faltei à minha geração. Fui orador de comícios em muros, nas praças públicas, nas portas de fábricas, em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, na Zona Missioneira e em Porto Alegre, defendendo os ideais da democracia, a partir da redemocratização de 1945, e, em 1947, participando da luta dos estudantes e do povo na famosa campanha “O Petróleo é Nosso” e em prol do proletariado. Isso na década de quarenta a cinqüenta.

Minhas três possíveis virtudes são: dedicação ao trabalho, paixão pelo estudo e a alegria de admirar, seja a minha terra, sejam aos seres humanos. Em poucas palavras, eis aí o meu perfil biográfico, em nada diferente dos homens comuns.

Quanto ao patrono do prêmio que hoje me concedeis, Srs. Vereadores, Dr. Cyro Martini, é um dos seres que mais admiro, quer como criatura humana extraordinária que foi, quer como contador de histórias, sem rival, em nosso País.

Agora, alguns detalhes inéditos. Na primeira vez que vim a Porto Alegre, foi a Érico que recorri, forçado pelas circunstâncias.

Encarvoado e de melenas desgrenhadas, empastadas de picumã - que saudade - todos, de pensões a hotéis, se negavam a me hospedar, pela personalidade e aparência que eu apresentava.

Lembrei-me, então, no desespero das horas que corriam, num dia muito quente, de uma carta de apresentação que me dera o delegado da ARI em Uruguaiana, Arsênio Lídio de Oliveira, grande figura humana, grande prestador de serviços à minha terra. Esse documento foi a minha tábua de salvação.

Conduzido à escrivania de Érico, na Globo, onde trabalhava, recebeu-me sem formalidades, com a saudável bonomia que o caracterizava. Leu a missiva, olhou-me bem nos olhos e redigiu um cartão ao gerente do Hotel Lagache, onde fui bem recebido e hospedado, não obstante a má figura. No meu jeito reservado de filho da Campanha, nunca invadi sua privacidade de trabalhador intelectual infatigável, mas tive, ao longo de nossas vidas, alguns contatos, que não foram maiores devido ao meu gênio arredio. Dele ouvi palavras inesquecíveis e valiosas, e a ele narrei algumas coisas e experiências. Entre os últimos encontros, lembro-me, quando presidi a Academia Rio-Grandense de Letras, voltando do Rio de Janeiro, de haver sido portador, por dois anos seguidos, de pedidos e empenhos de Austregésilo de Athayde, Presidente da Academia Brasileira, para que reexaminasse a sua decisão de não se candidatar à Casa de Machado de Assis. Segundo expressões do seu então Presidente, aceitando o apelo Érico só a iria honrar. E é óbvio, guardo na minha mente e no meu coração o prazer sem limites da leitura de seus livros, principalmente “O Continente”. Bem podem avaliar, Srs. Vereadores e companheiros, principalmente Ver. Cyro Martini, meu companheiro no Partenon Literário, como também o seu Presidente Serafim de Lima, a emoção e a alegria que me são conferidas tanto pela láurea da Casa do Povo de Porto Alegre, como, principalmente, pela grandeza do patrono desse Prêmio. Vale como um estímulo e um desafio para que eu reveja a minha modesta obra de cidadão e de escritor e dela faça um balanço, para avaliar onde posso me aprimorar no serviço aos meus companheiros de jornada terrena, principalmente a fim de aprender novas maneiras, se possível, de ser uma criatura melhor e mais devotada ao povo de Rio Grande e de Porto Alegre, a quem sempre tenho servido com o melhor empenho e o maior amor. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Cyro Martini): Gostaríamos de registrar os telegramas, cartões e outras correspondências recebidas por esta Casa relativas a esta Sessão Solene: do Sr. Luiz Felipe Vasques de Magalhães, do Sr. Edvaldo Machado Boaventura, da Sr.ª Ivanize Mantovane, da Sr.ª Maria Salete da Cunha, do Sr. Alexandre Menezes, do Sr. João Justiniano da Fonseca, da Sr.ª Conceição Q. J., do Ir. Élvio Clemente, do Banco FIAT, assinado pelos colegas da filha do nosso ilustre homenageado, Maira Hervé Ramirez; do Secretário Municipal de Cultura Charles Kieffer.

Essas são as correspondências recebidas por esta Casa que presta homenagem à figura do Dr. Hugo Ramirez, ilustre homem da cultura sul-rio-grandense.

Esta Casa, na minha palavra, na palavra do Ver. João Carlos Nedel, já registrou as razões pelas quais, ao prestar-se esta homenagem, ao entregarmos este Título correspondente ao Prêmio Literário Érico Veríssimo, também queremos deixar registrados os que aqui se fazem presentes, representando suas entidades no campo jurídico, no campo docente, no campo cultural, no campo literário e de outras áreas, esta Casa ao recebê-los, sente-se honrada.

A Casa, doravante, contará com a figura ilustre do Dr. Hugo Ramirez por duas razões, que é o seu Título de Cidadão Emérito que já o qualificava como personalidade singular, junta-se esse outro Prêmio Literário Érico Veríssimo. A Casa terá oportunidade de contar, mais freqüentemente, com a sua presença. Atualmente, o Dr. Hugo Ramirez participa ativamente da Casa, compondo uma Comissão que aprecia produções literárias, o que demonstra a aproximação extraordinária que ele tem com a Câmara Municipal de Porto Alegre. Assim, renovamos as nossas homenagens ao Dr. Hugo Ramirez, também registrando a presença da sua ilustre esposa, a Professora Maria Dornelles da Costa. Felicitamos novamente a família por esta homenagem.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino-Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h04min.)

 

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